segunda-feira, dezembro 31, 2012

O ABC de 2012

As letras V, W, X, Y e Z.

V - Vitórias (dez coisas boas distintas de 2012, apontadas sem ordem de importância)
- Sucesso escolar da nossa filha mais velha.
- Celebração dos primeiros casamentos e baptismos.
- Menos facebook na minha vida.
- Leitura mais metódica.
- Treino semanal de inglês conversado.
- Gravação de um disco no final do ciclo do primeiro semestre (que entretanto esgotou a edição física).
- Instalações maiores para o uso da igreja.
- Maior organização da tarefa pastoral.
- Sete actuações quase todas memoráveis (Planeta Música, Hall do São Jorge, Guarany no Porto, quarto andar do Mexefest nortenho, Rock in Rio, Metodista do Mirante, Futebol Club Palmense e Igreja Baptista do Estoril).
- Sustento num ano de crise económica.

W - We're Not Portugal
Eu e o meu cunhado Tiago Oliveira, residente no Tenessee, vamos começar um blogue chamado We're Not Portugal. Onde escreveremos em inglês para tentarmos conversar com os nossos heróis estrangeiros. Mantenham-se atentos.

X - Não sei o que hei-de fazer com um X.

Y - Não sei o que hei-de fazer com um Y.

Z - Zeros (dez coisas más distintas de 2012, apontadas sem ordem de importância)
- Saúde da minha mãe mais inconstante.
- Insatisfação com o sistema oficial de ensino.
- Ainda demasiado facebook (e internet no geral).
- Leitura ainda em quantidade reduzida.
- Ausência de experiência internacional.
- Relação deficiente da igreja com os vizinhos.
- Relação ainda distante da nossa família com os vizinhos.
- O chamado casamento homossexual como uma conquista cívica do Ocidente.
- Primeiros contactos concretos com a Lei de Liberdade Religiosa.
- Crise de vocações pastorais no meio Baptista (e evangélico em geral).

Deus abençoou-nos muito em 2012. Temos muito trabalho pela frente em 2013. Vamos a isso!

sexta-feira, dezembro 28, 2012

O ABC de 2012

As letras R, S, T e U.

R - Reading (é farsola estar em Inglês mas usei o L para Lapa e agora não tenho onde meter os livros que mais me marcaram em 2012)
- "The Meaning of Marriage" do Tim Keller. Uma defesa e um convite ao casamento escritos com elegância e ortodoxia. Temos oferecido este livro aos casais que se formam na nossa igreja.
- "Gilead" de Marilyne Robinson. Não é deste ano mas de 2004. Um livro cheio de beleza como li poucos na minha vida.
- "Falsos Deus" do Tim Keller. A Paulinas fez-nos esta surpresa de dar-nos agora em português este livro de 2009. Obrigatório até porque se encontra na livraria mais próxima.
- "The Theological Origins of Modernity" de Michael Allen Gillespie. Um guia excelente para compreendermos que o Ocidente não é uma fuga de Deus.
- "This Momentary Marriage" do John Piper. O casamento explicado explicadinho (este foi o ano dos livros sobre o casamento).
- "Brothers, We Are Not Professionals" do John Piper. Um livro de um Pastor para recordar os Pastores que o Pastorado não é uma profissão. Deu-me o slogan mais imbatível do ano: "no gore, no grace, no glory".
- "Da Trindade" do Agostinho. Quando Deus planeou que inventássemos a escrita era nisto que estava a pensar.

S - Samuel Pinheiro
Este foi o ano em que o Samuel deixou de orientar a comissão de Televisão da Aliança Evangélica. Durante mais de uma década colaborei com o Samuel. Recordo uma ocasião em que divergimos ferozmente (porque o Samuel é uma pessoa de convicções e eu também quero ser). Mas lembro-me que em qualquer dos momentos em que eu pudesse ter uma perspectiva diferente dele, sempre me senti pacificado porque sabia que o Samuel defendia o que achava ser verdadeiro. Nunca lhe ouvi uma posição que tomasse para se servir dela. O Samuel é uma pessoa rara porque serve as posições que toma. É um privilégio ter-lhe conhecido o trabalho e ter-lhe conhecido o carácter. A comunidade evangélica portuguesa deve muito a este homem.

T - TV
E parece que depois desse tal período de pouco mais de uma década o capítulo profissional da televisão também se encerra para mim. Não nego que é agridoce o momento. Porque, e falo do meu desempenho, muito foi feito mas muito mais poderia ter sido feito. Durante 11 anos fui o espectador mais privilegiado dos evangélicos porque, ao coordenar uma parte dos programas da Aliança Evangélica no Canal 2, assisti à diversidade evangélica e escolhi o que dela valia a pena ser mostrado no ecrã. Houve ocasiões em que lidei muito mal com esse privilégio, armando-me em comentador apócrifo e absoluto da vida protestante portuguesa. Nós, evangélicos, somos um povo com as suas complicaçõezinhas. Mas temos na nossa simplicidade o nosso maior trunfo: somos obcecados por Jesus. Agora, fora do aparelho de TV, farei por persistir na mesma obsessão.

U - Úria
Sou o mais suspeito para escrever isto mas take it from me. O Samuel Úria é o maior. No espaço de um mês ouvi o Sami quatro vezes. A primeira, tocando com ele, na Igreja do Mirante no Porto. A segunda quando se apresentou a um Tivoli cheio num espectáculo recheado e de acompanhamento irrepreensível por banda e coral. A terceira na sala dos troféus do Futebol Clube Palmense em versão Velhas Glórias (a banda que nunca assegura aos seus integrantes que terão vigor físico suficiente para chegar ao fim da canção que tocam). E a quarta, neste último Domingo, na Segunda Igreja Baptista de Lisboa na Lapa, numa apresentação de Natal simples e tocante. Nenhum artista no nosso País se compara ao Sami. E quando o afirmo sei bem do disco que já devia ter chegado mas chegará finalmente no próximo Fevereiro. Temos de começar a anexar áreas de Espanha para retribuirmos ao Sami o País que ele merece que o ouça.

quinta-feira, dezembro 27, 2012

Ouvir
Todos temos memória de visitas na hora errada. Mas o episódio em que Maria vista Isabel implora-nos uma memória mais viva pelas visitas que nos tornam as horas certas.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).

quarta-feira, dezembro 26, 2012

O ABC de 2012

As letras P e Q.

P - Pastores

Dez anos depois de ter saído de casa dos meus pais tenho uma profissão mais consistente do que auxiliar de actividade religiosa, realizador televisivo ou produtor musical. Sou agora um Pastor Baptista e de modo nenhum se estreitou o tipo de tarefas, antes pelo contrário. Há um sentimento renovado e de maior empenho nas coisas que há para fazer. Nesse sentido, ser Pastor é mais uma urgência que um emprego. Somos separados para cuidar do rebanho. Dois mil e doze foi um ano em que me fui habituando às implicações, digamos, também corporativas do trabalho. Perdi provisoriamente para os Estados Unidos o meu maior companheiro de jornada e senti a necessidade de me ligar a outros. Os pastores, e os Baptistas portugueses em particular, são uma espécie com a sua dificuldade em coabitar colectivamente. Desde a chegada da denominação ao País, há não muito mais de cem anos, que os Baptistas também são uma sucessão de desavenças entre pregadores. O que só piora se nos recordarmos que sempre fomos poucos. Há uma frase feita que não é nada injusta que diz que por cada três Baptistas há quatro opiniões. Os nossos desafios maiores são sem dúvida de evangelização, mas há uma evangelização interna constante que deve transformar a maneira ainda demasiado pagã com que nos relacionamos uns com os outros. Fazer parte de uma igreja congregacional (onde o poder é de cada assembleia local autónoma) imprime este tipo de dificuldades mas poderíamos e podemos melhorar a nossa resposta de fraternidade. Por isso sou grato a todos os Pastores Baptistas que durante estes últimos doze meses me ouviram. Não é fácil ouvirem-me e não foram assim tão poucos os que se dispuseram a isso. Uma palavra de gratidão aos Pastores Teotónio Cavaco, Tiago Oliveira, Jorge Leal, João Rosa de Oliveira, Jónatas Figueiredo, Jónatas Lopes, Paulo Pascoal, Pedro Salgueiro, José Santana, Walters Frishenbruders, Sérgio Gomes, Joed Souza, Alexandre Júnior, Marcos Ferraz, Samuel Quimputo, Mário Jorge, Emídio Francisco, Paulo Francisco, Valdemar Salgueiro, Daniel Lopes, Marcos Amazonas, Pedro Barbosa, Daniel Pascoal, Abel Pego, entre outros que me deram parte do seu tempo. Também aos obreiros como o Fernado Silva, o João Paulo Silva, o Joel Bueche Lopes, Pedro Barbosa e o Ismael Couto. Temos muito trabalho pela frente para não nos destacarmos das igrejas que servimos mas para lhes servirmos de exemplos.

Q - Queluz
Vou passando por Queluz mas raramente passeio em Queluz. Há pouco mais de uma semana aconteceu e pela primeira vez em alguns anos passei para o outro lado da estação. Céus. Amo Queluz (onde nunca vivi porque cresci mesmo ao lado, na Amadora) mas Queluz está cada vez mais feio. É verdade que se nota uma maior funcionalidade mas é uma funcionalidade que num certo sentido acentua a fealdade. Claro que é uma questão sensível de renovação urbana, onde os filhos de Queluz são substituídos por filhos de outros lugares que pouco conseguem na convivência com os pais dos filhos de Queluz (que, naturalmente, não foram por sua vez eles mesmos filhos de Queluz mas filhos de outros lugares do País e que chegaram a Queluz entre a década de 50 e 70, parece-me). Por outro lado também me enerva que se faça poesia fácil com os subúrbios, como se os suburbanos oscilassem entre o exílio e o convento. No outro dia uma amiga perguntava-me porque tínhamos feito uma canção chamada "Queluz está a arder" e eu, sem firmeza na resposta, disse que crescer num lugar também é em alguns momentos sonhar com a sua destruição. Se calhar caio na tal poesia fácil que ainda agora condenava. O que sei é que há dias passeei em Queluz e, ao contrário das minhas velhas certezas, dei por mim a não saber se o lugar ainda estava por arder ou já tinha ardido.

segunda-feira, dezembro 24, 2012

O ABC de 2012

As letras M, N e O.

M - Moscavide
O Domingo tinha sido muito mais longo do que o costume. Escola Dominical às 10h30, culto às 11h45, almoço apressado no apartamento da Igreja-Mãe e um culto de mais de duas horas às 16h. No final do dia eu era oficialmente Pastor e a minha comunidade era oficialmente uma Igreja Baptista. Muitos amigos no antigo cinema do bairro, muitas fotografias, muitas prendas atafulhadas no porta-bagagens. Antes de sairmos daquele pequeno rectângulo urbano que tinha sido a nossa casa espiritual durante dez anos ainda tive a oportunidade de deixar a Ana Rute e os meninos no carro e entrar por uma última vez no salão de culto da Igreja Baptista de Moscavide. Estava sozinho e às escuras. Peguei no porta-chaves e tirei aquela com que abria a porta. Olhei durante uns segundos para a sala vazia, fiz uma pequena oração da qual não me recordo e deixei a chave na caixa do correio. Quando entrei no carro os miúdos desfaziam-se em sono. E seguimos para casa.
No dia 22 de Janeiro de 2012 deixei de fazer parte da Igreja Baptista de Moscavide. Foram dez anos que terminaram no surgimento de uma nova igreja. Até por isso foram dez anos excepcionais. Em Moscavide ficaram irmãos que povoaram o início do nosso casamento e o nascimento dos nossos filhos. Hoje temos outra comunidade mas pessoas destas nunca deixam de ser da nossa família.

N - Nuno e Marta Fonseca
Durante anos ouvi o Nuno Fonseca falar sobre a necessidade de uma escola cristã e sentia-me do lado de fora. Porque é melhor que os evangélicos não construam uma cultura de nicho, porque faz bem que as nossas crianças lidem com o mundo real, porque só podemos testemunhar a fé quando estamos junto do meio secular, e todas essas ideias que hoje me parecem tão superficiais quanto preguiçosas. Se tivesse de despachar rapidamente a questão, e reconhecendo que cresci em escolas oficiais e não sou um cidadão grandemente traumatizado por isso, diria que os meus filhos não são missionários. Poderão vir a ser mas essa será uma decisão da sua responsabilidade e maturidade. Até serem independentes não são experiências evangelísticas minhas, lançados para o reino das trevas para serem luz. No que diz respeito à oposição luz/trevas creio que grande parte do trabalho dos pais é ensinarem para a primeira ao mesmo passo que protegem da segunda. Quem não está em pânico pela educação dos seus filhos é porque provavelmente ainda não reparou que é pai. Eu, progenitor ansioso, me confesso: estou muito preocupado com a educação dos meus filhos (e reconheço também que se não fosse pela sensibilidade da minha mulher teria ainda menos consciência do problema).
Este ano quando tivemos a oportunidade de visitar o Nuno e a Marta Fonseca assistimos a um dos momentos que mais me emocionou nos últimos tempos. Um grupo de crianças é ensinado por eles com excelência e compromisso. Podia falar-vos da surpresa que é ver uma menina de quatro anos a soletrar de um modo que tantas vezes uma de sete não sabe na escola oficial mas não vou por aí. Há uma altura em que todos os alunos são recolhidos para cantar o hino que o Nuno e a Marta criaram para eles. O momento tem tudo para ser vagamente ridículo (meninos a cantarem o hino da escola à volta de uma guitarra?) mas de repente tenho de fazer um esforço para não me comover à frente deles. Cantavam sobre aprender como uma função de acreditar, de saber para ser. E pensava, é isto que quero para os meus filhos. É isto que quero para os meus filhos.

O - Oceano
Continuo comprometido com o Oceano. Na maioria dos dias da semana fui na minha corrida matinal até ao mar e mergulhei. É um hábito que continua a fazer-me sentir mais disciplinado e disposto. Não tenho uma grande narrativa política para o assunto mas persisto pensando que o País precisa de se virar mais para o mar. Economicamente, I guess. Mas de certeza a um nível espiritual também.

sexta-feira, dezembro 21, 2012

O ABC de 2012

As letras K e L.

K - Kyle, Adelaide e Tracy

Por detrás das imagens de sucesso estão homens e mulheres. E quando elas entram na nossa rotina apercebemo-nos que por vezes admirar uma pessoa pode ser a melhor maneira de a rejeitar. A nossa obsessão com a fama também é uma maneira de ter pedra no lugar de carne e osso. O Kyle, a Adelaide e o Tracy apareceram em jeito de visita de cortesia e foram ficando. Claro que continua a ser divertido a maneira como as pessoas reagem à presença deles e Deus sabe o quanto preciso de reprimir a vontade de jogar o trunfo missionário da celebridade (os evangélicos portugueses têm cadastro nesta matéria). Hoje a família Richardson é parte da vida da nossa igreja. Antes de ser um êxito público é uma dádiva comunitária.

L - Lapa

A Lapa é um bairro surpreendente porque tem as tais famílias de classe média alta que o Herman José tão bem caricaturou há 20 anos pontuado por focos de pobreza quase medieval. Na minha opinião é o centro de Lisboa certo, longe da sofisticação forçada que encontro no Chiado. Tem o rio perto e os prédios da Avenida Infante Santo parecem-me uma categoria. A Segunda Igreja Baptista de Lisboa, que começámos a ajudar neste último trimestre, tem-nos recebido generosamente. O fim de tarde de Domingo passou a ser por conta do percurso ribeirinho entre a 24 de Julho e Oeiras. O dia do Senhor tornou-se mais longo mas mais bonito também.

quarta-feira, dezembro 19, 2012

O ABC de 2012

As letras I e J.

I de igreja
Deus tem graça que chegue. 2012 foi o ano em que estive envolvido no nascimento de uma Igreja. E Deus tem graça que chegue porque em muito o nascimento desta igreja foi influenciado por algum do meu ressentimento. Quando em 2007 começámos o trabalho que viria a culminar na Igreja Baptista de São Domingos de Benfica, algum do meu combustível era insatisfação com o estado de tantos púlpitos baptistas no nosso País. Ou seja, se os sermões que ouvia eram tão débeis por que razão não havia eu de contrabalançá-los positivamente? Acho que boa parte da consciência do que significa pregar e cuidar de uma igreja chegou só um bom bocado depois de me dar ao luxo de me achar capaz para a tarefa. O que comprova que Deus tem graça que chegue. Ao fazer de alguns vícios privados a possibilidade de uma virtude colectiva. Sermos hoje uma igreja faz parte daqueles milagres quotidianos tão bem descritos por Marilynne Robinson no livro "Gilead". Vale a pena repetir: Deus tem graça que chegue.

J de João Eleutério
A primeira vez que gravei com o João Eleutério ele era ainda um adolescente. Era 1999 e eu estava um bocado cansado de fazer parte de uma banda punk e apetecia-me tentar a sorte como songwriter (céus!). Armei-me de presunção (fácil para mim), armei-me de inspiração (não tão fácil para mim), e gravei umas dez canções que tentavam flow, folk e fado. O resultado não foi propriamente promissor (quem sabe um dia a FlorCaveira não reedita a coisa) mas a verdade é que 13 anos depois ainda continuo a tentar a mesma sorte. Entretanto o tempo foi passando, a banda que pouco tempo depois tive com o João Eleutério (Guel, Guillul & o Comboio Fantasma) acabou e o João passou para o escalão sério da música (trabalhando no seu próprio estúdio com o Paulo Abelho, formando os Cindy Kat e colaborando com artistas como o Rodrigo Leão e a Sétima Legião). Claro que nos fomos cruzando (em 2007 gravámos com ele umas sessões para a Antena 3, e meteu uns teclados no meu disco V) mas nunca mais voltámos a criar coisas juntos. Até que antes do Verão surgiu a oportunidade. O resultado é "Amamos Duvall" e aconselha o bom-senso a que se deixe passar o tempo antes que o artista comente a sua obra. Mas para já vou dar-me satisfeito com apenas um mês, a primeira edição praticamente esgotada, um par de actuações memoráveis e uma mão cheia de elogios encorajadores. No que diz respeito a produção musical, e desde que haja descaramento e à-vontade, o João parece-me nestes dias imbatível. Dá guitarras eléctricas esmagadoras, irresistíveis loops estragados, brilhos fm, sacanços de filmes, you name it. Rusga, rock, rap. Este é o nosso homem.

terça-feira, dezembro 18, 2012

Ouvir
Não devíamos odiar o Natal porque o Natal nos torna hipócritas mas devíamos amar o Natal porque o Natal nos mostra hipócritas. O problema não é o Natal, o problema somos nós.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, dezembro 17, 2012

O ABC de 2012

As letras G e H.

G - Gwen, Quim e Gloria
A Gwen e o Quim casaram este ano. Fizeram uma festa de celebração que nos levou ao Bairro Alto. Os nossos miúdos pareciam saloios a olharem para as luzes nocturnas de Lisboa. Quando saímos eram nove e pouco da noite mas já o Bairro se preparava para a animação. Oeiras é quase província quando comparada com a diversão da capital. Mas o mais importante do dia foi o que motivou a festa: o Quim, a Gwen e a pequena Gloria serem uma família. Entre os convidados estava boa parte da família real do hardcore/punk lisboeta da década de 90. Tirando o Ricardo e a Graça, poucas contribuições havia para uma nova geração. Acredito que a beleza da família Van der Velden Albergaria acabará por inspirar o pessoal da estética do it your self a interpretarem-na também biologicamente.

H - O Henrique, a Ana Margarida e a Sofia
O Henrique, a Ana Margarida e a Sofia são outra querida família amiga. O Henrique tem sido exageradamente generoso quando nos menciona na sua coluna no Expresso. Para a nossa geração, que se encanta com a ideia da transgressão, o Henrique comete uma das supremas: procurar escrever de uma maneira consequente. Há muitos cronistas novos à procura que Portugal os encontre. O Henrique procura encontrar Portugal, uma tarefa que lhe rende naturais dissabores. Os filhos mudam tudo e a família Craveiro Raposo não busca aquela irritante distância que é eclipsar a família do nosso discernimento enquanto cidadãos (uma das razões que apaga as crianças do discurso público para remetê-las para os tablóides em regime bi-polar de mostra-não-mostra). Os grandes cronistas são também os que se mostram sensíveis aos pequeninos.

sexta-feira, dezembro 14, 2012

Agenda



O Úria que estará logo no Palmense é o Úria que está aqui e cantará na Lapa para nós a 23 de Dezembro às 16h. É Natal ou não é Natal?

quarta-feira, dezembro 12, 2012

O ABC de 2012

A letra F. Filmes.

Em irremediável dessintonia com as agendas cinematográficas, os filmes que este ano me marcaram foram:

* "Dawn Of The Dead" de George Romero, de 1978. Visto pela sexta ou sétima vez mas pela primeira a transmitir-me serenidade. O apocalipse zombie como o pretexto ideal para filmar a solidão.

* "Sangue do meu sangue" de João Canijo, do ano passado. O meu amigo Henrique Raposo emprestou-me a edição especial de DVD e por enquanto só vi a versão normal mas já vi muito. Quando o João Bonifácio comparou o disco dos Lacraus no Ípsilon ao "Sangue do meu sangue" e ao "O Retorno" da Dulce Maria Cardoso fiquei meio obrigado a gostar do filme. Mas vamos por partes. Vou enumerar o que gostei e o que não gostei, comprometendo-me a ver a versão das três horas em breve.
O que gostei:
- É uma generalização larga mas "Sangue do meu sangue" foi o único filme português que vi nos últimos anos que vai a algum lugar. Não que esta tenha de ser uma categoria cinematográfica obrigatória mas para mim ajuda: sentir que há um progresso na acção. Independentemente do ritmo poder ser lento o espectador é conduzido pelo que está a acontecer. Por isso é quase estranho, mas merecedor de uma grande celebração, que o final seja um final. Há um clímax. Que saudades de ver isto feito por cá. Ainda por cima um clímax bem feito, consistente, bem filmado (apesar de discordar de algumas das opções da realização - mas já lá vamos). Quando "Sangue do meu sangue" chega ao fim saímos com uma das melhores recompensas que a arte permite - vimos alguma coisa que nos prendeu e que em si própria mostrou um princípio, um meio e um fim. Não sei se era a vontade de Canijo mas o seu filme tem sentido.
- Não há um actor que esteja mal. Convincente, seguro, credível. Desde a consagrada Rita Blanco (não me lembro de a ver representar mal, de facto) até à miudagem.
- Os diálogos ulceram-me pelos palavrões mas até aí, lá está, estão escritos de uma maneira que não tem nada a ver com aquela afectação típica de boa parte do cinema português. Sei o quanto receamos a qualificação mas não consigo deixar de a usar: as falas dos actores são realistas.
O que não gostei:
- Não é preciso mostrar tanto. Tanta violência e tanta nudez. Refraseio para que o Diácono Remédios que há em mim seja claro: acredito que o cinema não tem necessidade de despejar visualmente. Falta pudor à acção. Claro que imponho uma perspectiva moral ao acto de ver um filme. No dia em que não o puder fazer também não valerá a pena ver mais cinema.
- Um filme com incesto é um triunfo mas também pode ser um tropeço. Sabemos que a colagem à tragédia grega é intencional. Mas, e imagino eu, se Canijo conseguisse estabelecer a sua habilidade sem essa referência creio que o impacto dramático seria maior.
- O cenário dos subúrbios está filmado com uma intensidade que, em último grau, pode acentuar algum exotismo exagerado. As pessoas da Linha de Sintra, que provavelmente não vêem o filme de Canijo, podem tornar-se mais arquétipos que personagens.

* "O Apóstolo" de Robert Duvall, de 1997. Voltei a vê-lo e confirmei que só o sei ver com lágrimas.

* "Night Moves" de Arthur Penn, de 1975. Eu que não sou de filmes de detectives encontrei nesta aventura de Gene Hackman uma agradável surpresa.

* "War Horse" do Steven Spielberg. Uma cavalinho a fazer mais do que muitos canastrões.

* "The Descendants" de Alexander Payne. A dose máxima de drama pós-moderno que o meu coração aguenta.

* "The Dream Team" sobre a equipa americana de Basketball nas Olimpíadas de 1992. Um filme sobre amizade. Muito bonito (e vi-o num gesto de amizade do Samuel Úria).

* "Under African Skies". Um filme bonito a contar a história de um disco muito bonito.

terça-feira, dezembro 11, 2012

Ouvir
O Evangelho de Marcos é uma história contada por um discípulo de um discípulo (Marcos em relação a Pedro). É uma história particular mas é uma história do sempre. Este é o nível de ousadia deste texto. Este texto, ao qual devotámos 60 Domingos, é um texto que tem a presunção de contar a história de todo o Universo. E nós acreditamos nessa presunção.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, dezembro 10, 2012

O ABC de 2012

A letra E. Escrever.

Olho para a tarefa de escrever mais como uma coisa que devo fazer do que propriamente uma coisa que gosto de fazer. E com isto não quero dizer que não gosto de escrever porque gosto. Mas hoje a vocação fala mais alto (e sei que a palavra vocação pode soar insuportavelmente arrogante mas é, de facto, o terreno último que sustenta o meu hábito de escrita). Escrevo porque estou convencido que devo escrever. Daí um esforço de no último ano escrever de uma maneira mais disciplinada. Por exemplo, hoje parece-me um luxo ler um livro e não escrever nada sobre ele. Não porque ache que o mundo precisa das minhas recensões mas porque sei que, se não escrever nada, no futuro será quase como se não tivesse lido esse livro. Isto faz com que o que escrevo perca no campeonato existencialista (a verdadeira tabela que interessava quando os blogues começaram há dez anos) até porque o campeonato existencialista não suporta pessoas que fazem coisas por sentido de missão (ver este texto onde o Lourenço aponta como defeito uma das melhores coisas do nosso actual Primeiro-Ministro). But, frankly my dear hoje em dia eu não estou assim tão preocupado em agradar aos bloggers existencialistas out there.
Isto para chegar às três pessoas vivas que acho que mais inspiram a maneira como escrevo.
1. John Piper. O Pastor baptista americano que é o meu herói contemporâneo. Farei tudo o que puder para que mais pessoas conheçam John Piper. O John Piper escreve de um modo que há dez anos consideraria hediondo: John Piper acredita que a linguagem existe para servir o sentido. Por isso preocupa-se para que a sua escrita apresente características impopulares como clareza e lógica. Ainda estou muito longe de ter uma escrita clara e lógica mas ando a tentar.
2. José Tolentino Mendonça. O Padre Tolentino pode parecer em muito o oposto de John Piper. Não por ser obscuro ou ilógico, que não é, mas por investir mais na sugestão do que propriamente no sentido. O Padre Tolentino tem um ministério da amizade (patente no último e excelente "Nenhum caminho será longo") que não se faz nos sulcos protestantes do confronto mas nos atalhos inesperados da empatia. O Padre Tolentino serve para mim como um contra-ponto ao feitio evangélico, sempre pronto para a tareia. A minha escrita nunca será convidativa como a do Padre Tolentino mas ando a tentar.
3. Ana Rute Cavaco. I know, I know. É meio embaraçoso admitir que uma das pessoas que mais nos influencia é a nossa própria mulher. Mas é uma questão de justiça dizê-lo. A minha mulher sempre escreveu bem e tinha a noção disso antes de casarmos. Só que a minha mulher sempre escreveu com o coração demasiado aberto, o que me parecia um delito considerável tendo em conta o espírito dos tempos. Acontece que o espírito daqueles tempos foi-se tornando passado para mim e passei a ver que o coração aberto é concretamente superior ao coração fechado. Nunca terei uma escrita tão sincera e despojada como a da minha mulher mas ando a tentar.
E pronto. Ficam as três pessoas vivas que conscientemente mais influenciam a maneira como escrevo. Um Pastor, um Padre e a minha mulher. Não digam que não vos avisei.

sábado, dezembro 08, 2012

Amanhã em SDB
Despedimo-nos de um amigo. Durante 60 Domingos lemos o Evangelho de Marcos. Queremos ouvir-lhe um recado final. Todos são bem-vindos a partir das 10h30.

sexta-feira, dezembro 07, 2012

****
Amamos Duvall recebe hoje quatro estrelas do Público e um generoso resumo: "um disco duplo de um homem que quer ser uno."

quarta-feira, dezembro 05, 2012

O ABC de 2012
A letra D. Discos.


















[Dez discos que me acompanharam em 2012. A ordem é, tirando o primeiro, aleatória.]

- "Quando é que voltas para casa?" do Filipe da Graça
- "Gipsycalia" do Nick Nicotine. Barreiro é Rock City mas não só.
- "Blunderbuss" do Jack White. Há futuro depois da melhor banda de rock das últimas décadas? Há.
- "Tempest" e "Old Ideas". Dylan e Cohen lançam discos e nós ouvimo-los repetidamente. Causa e efeito.
- "Celebration Rock" dos Japandroids. O título diz tudo.
- "Twins" do Ty Segall, um rapaz americano simpático que já me fez a segunda parte de um concerto no Barreiro.
- "Reign of Terror" dos Sleigh Bells. Sinto-os como companheiros do outro lado do Atlântico na nobre tarefa de compreender que as guitarras do metal são matéria pop para os nossos dias.
- "Soba Lobi" dos Pontos Negros. There's no such thing as rock não-praticante.
- "As oportunidades perdidas de Bruno Morgado". O título anunciou e o disco cumpriu. Vale-nos a música que nos encontra sempre.

Há um teste do qual a música portuguesa continua a fugir: o botão do volume. Por isso há muitos portugueses a fazer música mas poucos portugueses a fazer rock. É notória a nossa inclinação para tornar séria a música popular, no pior sentido da palavra. Os discos são cheios de fernicoques e dizem mais do lugar onde os músicos querem chegar que das pessoas que querem atingir. A música popular portuguesa torna-se séria como o pretexto ideal para não ser animada (e uso o termo também no seu sentido espiritual). A prova é o artista em Portugal ser uma consciência patriótica oficiosa, convicto de que lhe caberá resolver os destinos do País quando os políticos, técnicos sem uma centelha poética, não conseguem (é revelador que o espírito do Zeca Afonso continue a funcionar mais como caução ética que artística - parece que as pessoas têm todas de gostar do Zeca para não terem de o ouvir). Este fenómeno é persistente de um modo que engole os que ainda agora chegaram. Falo por mim e por alguns dos meus companheiros. Com o possível exagero messiânico que em alguns momentos se formou à volta de uma suposta nova música moderna portuguesa independente, e da FlorCaveira em particular, a verdade é que o frisson passou e a normalidade voltou. Suddenly estamos todos de volta a 2007. Há nomes novos, é certo, mas na sua maioria ocuparam lugares marcados. Ganharam carreiras. O meu raciocínio é que o rock, e falo de rock e não de música popular portuguesa, raramente se faz de carreiras. Isto para chegar ao meu disco do ano. "Quando é que voltas para casa?" do Filipe da Graça. Há uma ironia que é eu gostar ainda mais do disco dele do ano passado (que foi o meu 3ª preferido do ano) e ser o meu preferido de todos deste ano. O Filipe da Graça passa sem que o radar da crítica dê conta e o problema é da crítica. O disco do Filipe da Graça é rock e sei disso porque continuamente sobrevive no teste. No teste do botão do volume. O Filipe da Graça rebenta. Pega em canções dos outros e torna-as melhores (os céus sabem os perigos da manobra). Pega em indie darlings (como os Yuck) e em vacas malditas (como os Bee Gees) e mete-os a dizer o seu nome sem cinismo. Canta em português ao mesmo tempo que diz baby como não conseguem os luso-hologramas anglófilos com os quais Elvis não ousaria palitar os dentes. E, não sendo o Filipe religioso, habilita uma das palavras mais importantes do mundo: graça. Este é o rock que, como diz o Lou Reed, me salvou.

terça-feira, dezembro 04, 2012

Ouvir
A fé não é meia bola e força mas a fé é impossível para quem quer jogar à bola partindo do princípio que é dono dela.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, dezembro 03, 2012

Novembro foi assim


O ABC de 2012

[Ao longo de Dezembro vou pondo o meu alfabeto pessoal do ano. Hoje as letras A, B e C.]

A. Agostinho
Dois mil e doze foi um ano de Agostinho. Primeiro porque ao estudarmos as confissões históricas em SDB tornou-se impossível não falarmos da sua importância. Depois porque atirei-me ao "Da Trindade" (que estou a terminar nestes dias). Não me parece de todo exagerado dizer que o Ocidente seria outro, um lugar bem pior, se não tivesse existido Agostinho. Agostinho faz-me sentir mais esperto e dá-me vontade de fazer canções. Quando, geralmente pela manhã, leio algumas páginas dele, liga-se-me a ignição de todas as ideias missionárias. É uma cafeína ainda mais forte que o rock'n'roll.

B. Blogues
Ainda não foi em 2012 que os blogues morreram. A minha dieta hoje é substancialmente diferente do passado. Feita de teologia e dos históricos que sigo desde há 10 anos. Este foi o ano que os blogues celebraram, graças ao exemplo da Coluna Infame, a primeira década. Para mim o blogger de 2012 é o Joe Carter, que conheci na First Things mas que agora contribui para a Gospel Coalition (o blogue pessoal dele está aqui).

C. Crise
Como se vive neste País em 2012 sem a omnipresença opressora da palavra crise? Talvez seja exagero meu mas parece-me que para muitos a crise é uma vocação. Há uma convicção tão grande no modo como algumas pessoas discutem a crise que parece que nasceram para ela. E não estou a pensar em analistas políticos. No meu contexto, e só para dar um exemplo, vejo crentes que durante este ano mostraram mais certezas sobre a política do que sobre a Bíblia. Dá-me vertigens e faz-me querer pensar mais antes de dizer alguma coisa sobre o assunto. Como se calcula, é impossível fazer parte de uma igreja sem sermos testados pela economia. Em SDB há desempregados, empresários, artistas, gente na acção social, funcionários públicos, entre outros. E muitos passam dificuldades como nunca antes. Mas ainda assim, na hora procurarmos uma perspectiva cristã para o momento, procuramos cautela. Um cristão é chamado a viver a partir da fé. É a fé que nos traz uma decisão pública, política, partidária. Isso deve fazer-nos estupendamente prudentes sobretudo se o diálogo se mostra surdo (como acho que tem acontecido). Uma boa parte da calma também vem de não sermos apenas criaturas de contabilidade. A falta de recursos é um assunto sério mas em último grau um cristão não julga que a falta de recursos é o pior que lhe pode acontecer. Há milhões de cristãos pelo mundo em condições tão piores que as nossas e devíamos aprender alguma coisa com eles. A noção de futuro é completamente diferente conforme a expectativa de fartura. O nosso credo depende da presença de Deus ou da presença de dinheiro? A partir do ponto em que os cristãos esclarecem as suas prioridades é mais provável que contribuam para uma sociedade mais justa e livre. E com menos crise.