terça-feira, maio 31, 2005

Aproveitando a maré

O pai usa:
1: um blazer da colecção Zara Outono/Inverno 2004 comprado nos saldos por 39 euros
2: uma t-shirt dos Delta 72, uma banda americana de som roque retrógrado
3: umas calças de ganga da colecção Zara Primavera/Verão 2004 compradas nos saldos por 9 euros e 90 cêntimos
4: uma criancinha de quase 13 meses, com 11 quilos e 865 gramas, um dente (detectado ontem) e o sentido de humor da mãe

As imagens estão protegidas não tanto por segurança da filha mas do progenitor. Ainda a Liga Para a Defesa das Crianças Exploradas lhe faz a folha...

segunda-feira, maio 30, 2005

Buy now
É conhecido que o Pedro Mexia é o meu modelo nesta coisa dos blogues. Há uns bons dois anos atrás o Pedro foi entrevistado pela Maxmen. Eu sou um aluno lento mas chego lá. Este mês está tudo a comprar a "Pais & Filhos"! A revista não é bem a mesma. A inspiração mamária persiste.
O pentecostes que anseio
A seguir ao Gonzo que saiu há uns meses da Quinta das Celebridades devo ser a pessoa que mais usa a palavra "obviamente". Os leitores calculam o meu sofrimento: a coisa escapa-se-me da boca.
A glossolália perfeita dissolve os advérbios de modo.

sexta-feira, maio 27, 2005

Bailinho
Um tipo acaba de ler alguns artigos da Spectator e tem vontade de ouvir a mais vibrante música africana, gastando a rodopiar uma medida pré-determinada de suor. É nos xilofones zairenses que está o alvo da revista britânica. A vaidade envolvida nesta dança é absolvida pelo facto do Senhor preferir o baile sincero à reza dissimulada.
Pequeno conto
Havia um senhor que sobre a humanidade possuia as ideias mais favoráveis. Procurava na cidade onde vivia as zonas perigosas para poder ser assaltado. Esperaria então, com todo o entusiasmo possível, a chegada do bom samaritano.

quarta-feira, maio 25, 2005

Caroço
Num só dia vejo dois filmes em que as crianças não se sabem comportar ("Uma pequena vingança" e "Battle Royal"). Talvez esta seja mais uma das heranças do Éden: ninguém está livre de gerar descendência mal-criadona. Não é à toa que Eva só engravidou depois de ser expulsa do jardim. Se a prole fosse um negócio 100% divino então teria existido no Paraíso. Enquanto as coisas corriam bem Deus ordenou ao homem que desse nome aos animais. Quando as coisas começaram a correr mal Deus ordenou ao homem que desse nome aos seus filhos. Não é preciso muita teologia para entendermos a moral da história.
Por cada criancinha que nasce há um pai e uma mãe que se engasgam num caroço de maçã.

terça-feira, maio 24, 2005

Um dedinho
Dois apreciados leitores evangélicos criticam a minha lista de linques musicais. Parece que as bandas que refiro enodoam a minha piedade na sua referência a sexo, drogas e outras tropelias luciferinas. Não me permito desanimar porque outra leitora, agora católica, confessa que graças à influência deste blogue voltou a ouvir música não exclusivamente religiosa.
A suspeita tende a confirmar-se: sou mais apreciado por romanos do que por protestantes (conheço pastores baptistas que daria o dedo mindinho esquerdo para que nunca mais tivesse na vida uma ligação à internet).
Mas não fujo à questão. Se eu me importo de publicitar músicos que apelam à perdição das almas? Não, eu não me importo. Eu tenho orgulho até. Quem me dera ter no epitáfio: "Aqui jaz Tiago de Oliveira Cavaco. Promoveu o Céu e o Inferno. No final o Senhor ajustou contas com ele". Sei que no final muitos evangélicos quererão ajustar contas com Deus caso me encontrem na Eternidade.


O desenho é do meu amigo Paulo Ribeiro.
Qual ter filhos qual quê!
Levar o lixo à rua de calças de pijama é o grande salto existencial.

segunda-feira, maio 23, 2005

Darth Vader
Lendo o "History of Christianity" do Paul Johnson deparo com o Agostinho mau. A minha alma, frágil na sua predisposta adoração ao filho de Mónica, todavia não se entristece. O lado negro da Força pertence ao cinema. Eu satisfaço-me com a ideia de pecado. E, feitas as contas, Agostinho era também um miserável pecador. Diz-se que perseguia e em muito inspirou a Inquisição. Os homens de Deus são capazes das piores coisas sem precisar de capacete e voz distorcida.
Da lenta regeneração do pecador
Na maioria das ocasiões interessa-me mais o reconhecimento da obra do que a obra.

sexta-feira, maio 20, 2005

Equivalência dinâmica II
É compreensível que Babel seja a cidade bíblica mais amada pela intelectualidade. Borges merece-o. Mas Sodoma, filhinhos, mas Sodoma? Sodoma é a referência. Há espaço para todos: efeminados e hospedeiros de anjos. Uma brilhante pólis que divide a agenda cultural entre manuais escolares homofílicos e manifestações contra a pornografia. Sodoma é a urbe politicamente ideal. A sua destruição é um pormenor. Ninguém espera que tudo dure para sempre.
Equivalência dinâmica
Quando me chamam homófobo eu, que sempre tive medo de mulheres, só o posso entender enquanto reabilitação politicamente correcta do sexo restante.
Gostar de homens III

John Carpenter. Um nome que era a profissão do Mestre.

quinta-feira, maio 19, 2005

Uma memória universitária
Na Faculdade onde estudei ("FCSH, bendita és tu entre as Universidades") existia um grupo de mulheres minoritário. As estudantes de Línguas e Literaturas Modernas, vulgo Inglês-Alemão, Português-Francês e consequentes intersecções. Toleradas na sua ausência de empenho político e invejadas no seu uso descomplexado de maquilhagem, afastavam-se da multidão circundante, eleitora na régua de 20 centímetros que ia do PSR ao PCTP-MRPP.
Eu, que tenho um fraco por mulheres que usam o bidé e não lêem estruturalistas russos, sentia o meu coração apertado por semelhante falta de caridade. Afinal nem toda a estudante de Línguas e Literaturas Modernas tem de ser professora do secundário ou trocar de namorado surfista de 15 em 15 dias. Uma coisa aprendi (porque na maior parte das vezes pelo menos uma coisa aprendo - herança de uma educação fundada em princípios teleológicos): mulheres diferenciadas por ausência de engajamento ideológico são uma prova de que quase sempre a beleza triunfa sobre o esclarecimento político. A respublica é uma vingança das feias.

P.S. Aproveitando o facto de os meus queridos Maradona e MacGuffin mencionarem Pedro Sales, devo afirmar que o escriba barnabeico era figura democrática incontornável naquele povoado da Avenida de Berna. E mais não digo.

quarta-feira, maio 18, 2005

Apelo inesperado à sisudez
Ao andar de volta dos últimos dois capítulos do evangelho de Marcos concluo que é preciso ter cautela com o cinismo: foi o cinismo que levou os legionários a colocar uma capa vermelha e uma coroa de espinhos sobre o corpo torturado de Jesus parodiando o título de "Rei dos Judeus". Não foi uma má piada. Por ser boa é que se torna preocupante.
Lewis, C.S.
É um facto: muito precisa Portugal de ler C.S.Lewis. O John Santos, distinto brasileiro nos Estados Unidos, está a trabalhar para o seu galardão celestial (a Bíblia diz que Deus recompensará os justos na Eternidade, não se esqueçam os mais esquecidos) colocando disponível na rede para pios e pagãos uma tradução das "Screwtape Letters" - Lendo Lewis é o blogue.

terça-feira, maio 17, 2005

Gostar de homens II

Pentecostalmente fascinado por Duvall, Robert.
O adorno
Tenho a orelha furada. Já não uso brinco há algum tempo. Desde que passei a desempenhar uma função de responsabilidade na Igreja Baptista de Moscavide. Não me apetecia que olhassem mais para as minhas orelhas do que para as minhas ideias. E também não me apetecia ter de ensinar ninguém a olhar para além das aparências.
Volta e meia, num feriado solarengo, vou à caixinha das argolas e passeio por Sintra exibindo o adorno de prata. Sorridente e extraordinário. Intermitentemente fazendo o gosto à minha (de)formação estética.
É bom que assim seja. Adormecer à noite sob a convicção de que submeto a moda a valores mais altos. Sou fariseu. Mas bem-intencionado.

segunda-feira, maio 16, 2005

Ensino superior
Consta que Orígenes, depois da conversão ao cristianismo, se terá castrado. Deixava para atrás os apelos da carne e uma promissora vida académica (os apelos da carne, não se esqueçam). Passou a dormir no chão, nunca beber vinho, seguir uma dieta vegetariana, satisfazer-se com um casaco apenas e andar descalço.
A minha descoberta da fé não teve nenhum destes arrebatamentos. Mas também é verdade que não beneficiei do abandono de uma carreira universitária de sucesso.

sexta-feira, maio 13, 2005

Gostar de homens

Gallo. Gallíssimo.
Qualquer emigrante carece do seu BMW
Caríssimos, quem se importa com pudores literários? O que eu queria mesmo era ter este belo blogue publicado em livro. Isso sim, seria algo para mostrar aos meus pais na Amadora.

quinta-feira, maio 12, 2005

Dentinhos
Haverá algo mais elucidativo sobre o carácter divino do que o facto da Criação viver sob a permanente possibilidade do equívoco? O mundo deve ser comemorado ainda assim. Para além de nos podermos desentender.
Kierkegaard um filósofo da adolescência, Dylan um cantor de intervenção, o Apóstolo Paulo um retinto misógino. Se é razoável que errar é humano (embora não se encontre escrito na Bíblia, tenhamos em conta) certo é também que ser humano não é necessariamente errar (e isto já a Bíblia corrobora). Ser livre para morder as mãos de Deus pode ser uma actividade emancipatória e fortalecer as gengivas. Mas tramado, tramado é enganarmo-nos um bocadinho e dizermos pelo pouco que os outros espreitaram o muito que ficámos por ver.

quarta-feira, maio 11, 2005

O tal questionário
A minha amiga Margarida Ferra passou isto para mim.

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Já desejei ser muita coisa, nunca um livro.

Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por um personagem de ficção?
Lucky Luke. O pior era arranjar coletes pretos simples nos anos 80.

Qual foi o último livro que compraste?
A obra completa de Paulo Quintela a um preço escandalosamente baixo na Feira do Livro da Gulbenkian (a literatura dissociada de quanto custa perde 30% da graça). O senhor traduziu Hölderlin, Rilke, Goethe e todos os alemães que valem a pena.

Qual o último livro que leste?
"The Everlasting Man" do Chesterton.

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
A Bíblia porque sou um bom cristão, "O Diário de Adão e Eva" do Mark Twain porque esperava ir acompanhado, as "Screwtape Letters" do C.S. Lewis porque até numa ilha deserta existem demónios, "O Memorial do Convento" do Saramago porque foi o livro que me revelou que a literatura era uma cena muita fixe e faz-nos bem ter boas memórias de pessoas intelectualmente pequenas, e um a escolher na véspera consoante a disposição (teria de ser um Kierkegaard, teria de ser um Kierkegaard).

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
Ao meu amigo Paulo Ribeiro porque lê pouco e isto serve-lhe de lição, ao meu amigo Miguel porque acabou de casar e precisa de uma boa desculpa para fazer um intervalo na espinhosa missão de matar formigas no seu novo T2, e à minha amiga Raquel porque é meia germânica e por isso uma mulher cheia de coisas interessantes para dizer.

terça-feira, maio 10, 2005

Doze meses, onze quilos oitocentos e sessenta e cinco gramas
Quisera eu ter no corpo sinais visíveis da paternidade para além do pescoço dorido e da coluna pouco recta.

segunda-feira, maio 09, 2005

Flores
Ontem foi o dia das mães no mundo civilizado (isto é, protestante). Dia das mães, não dia da Mãe. Somos zelosos combatentes da Mariolatria mas filhos agradecidos. Oferecemos-lhes rosas e tudo.
Tradutore
Diz o irmão Rangel lá na igreja que quando Jesus der a palavra-passe para o Final dos Tempos "vai tudo p'ró maneta". Derrida não desconstruiria melhor o Apocalipse.

sexta-feira, maio 06, 2005

Um esclarecimento
Certamente desnecessário para quem sabe ler mas indispensável para os mal-intencionados. E vale a pena perder algum tempo a esclarecer os mal-intencionados. Pôr uns pós de religião com pitada de almanaque pópe-roque pode garantir o sucesso deste blogue. Uma receitinha do caraças, uma salada russa exótica, uma bocarra pós-moderna. Quando me sento no Monte Sinai pouco me aflige o estilo, honestamente. A erudição nunca curou leprosos. Os babilónios não me perdoam que acredite nas coisas que escrevo. É-lhes intolerável que o lustroso chapéu que uso sirva para me proteger do sol.
Almas torturadas pelo cristianismo podem ser o último grito da sofisticação estética. No deserto, todavia, de pouco nos serve o penteado.

quinta-feira, maio 05, 2005

O meu primeiro complexo de inferioridade
Surgiu quando andava na 1ª classe e dei conta que era o único miúdo da turma (exceptuando a minha irmã gémea) que não via os desenhos animados ao Domingo de manhã. Razões religiosas, pois claro. Os horários da Escola Dominical não se compadeciam das aventuras de Ruy, o Pequeno Cid. Aquilo que julgava ser um hábito generalizado de piedade tornava-se a minha assinatura pessoal - o infeliz que vai todos os Domingos à igreja.
Aprendi duas coisas. A primeira: ser católico num país de maioria católica é socialmente emancipador porque horários de catequese há muitos. A segunda: crescer numa minoria protestante é uma via sacra de recalcamentos.

quarta-feira, maio 04, 2005

What the world needs now is love, sweet love
E monoteístas desembaraçados.
Tinha 25 quando comecei este blogue
O Messias tinha cerca de 30 ao iniciar o seu ministério. Devo cinco anos ao bom-senso.

terça-feira, maio 03, 2005

Como se já não calculássemos
Jesus não suporta hipocondríacos.
Guardanapo
Um tipo enterra o nariz no "The Everlasting Man" do Chesterton, edição da Ignatius, chegado há três semanas da Amazon americana (a minha escassa experiência com a francesa joga a favor do Pentágono) e sente o cheiro. Já no Velho Testamento o Senhor foi algumas vezes persuadido pelo que lhe chegava às celestiais narinas. Escritores sem odor há para aí em pacotes pague-dois-leve-três. Geralmente escrevem sobre o próprio acto de escrever e até quando espirram oferecem bibliografia.
Se as letras servem para alguma coisa é para abrir o apetite ao estômago do Todo-Poderoso. Comidinha, estimados, comidinha.

segunda-feira, maio 02, 2005

Das Suas mãos*
Uma das debilidades dos ateus é, descartando-se do Criador, atribuir a existência da mulher a um acaso cósmico. Não é incredulidade religiosa. É ingratidão pagã. Não é falta de sensibilidade estética. É falta de respeito.

* Façam favor de conhecer o blogue E Deus Criou A Mulher, do estimado Miguel Marujo. Onde Monica Belluci é um argumento teológico.