sexta-feira, abril 30, 2004

Apontamento sobre as delícias mundanas II
Um amigo comentava que comer no chinês é de esquerda. Tento compreender. O preço. A partilha da galinha com amêndoas. Mao como referência?
Talvez, talvez. Não sou bom em duas coisas: conviver com jornalistas e situar-me nas geografias ideológicas da culinária.
Apontamento sobre as delícias mundanas
Não gosto de gastar dinheiro em comida. Todos sabemos em que acaba o investimento. Pascal não mastigava os alimentos para evitar sentir prazer no seu sabor. Não vou por aí mas sou incapaz de ler um texto sobre um bom prato. O demónio da glutonaria não me oferece sombra.

quinta-feira, abril 29, 2004

Seis católicos como deve ser
Agora há a Terra da Alegria. Todas as quartas-feiras. Sempre.

quarta-feira, abril 28, 2004

Perspectiva
Este tipo de cristãos no qual me reconheço aguarda pelo regresso físico de Jesus. A Segunda Vinda. Um evento cósmico. O fim do mundo. Menciono isto porque leio um verso de D.H. Lawrence: "Oh and I wish the high and super-gothic heavens would come down now".
Não é o caso de suspirar pela consumação dos séculos. Mas de vez em quando dá jeito lembrar em que é que isto vai tudo terminar. Como se diz hoje em dia, colocar as coisas em perspectiva.
A pronúncia que nos salva
O disco "Carniceria Tropical" dos Ratos de Porão é aquele que melhor faz justiça ao som de uma banda de punk/hardcore. Parece ser gravado dentro do poço que é uma sala de ensaio. A voz, quase sempre imperceptível, só comprova que a superioridade do barulho e a sua suprema eloquência consistem em já se ter desistido da palavra bem dita.

terça-feira, abril 27, 2004

A literatura
Conto ao meu amigo Paulo acerca de um texto de Robert Walser sobre um macaco que seduz uma jovem donzela numa pastelaria. Deu-lhe logo vontade de colocar a coisa em desenho. A mim, numa cantiga.
A literatura é o exercício de excitar/reprimir os nossos ímpetos mais primários.
Assim
Se eu fosse americano queria ser como o Kris Kristofferson.

segunda-feira, abril 26, 2004

Da educação que me foi dada
A desconfiança em relação aos outros na qual fui educado. O pressuposto de não conhecerem ainda a Salvação do Senhor Jesus. Partir da assunção que os espera o fogo do inferno.
Há coisas boas a sair daqui. Outras más. Uma visão providencialmente severa da natureza das pessoas. Bom. Uma arrogância espiritual nem diplomática nem pedagógica. Mau. Muito mau.
A minha visão da igreja
No livro de cânticos da Igreja Baptista de Moscavide o nº 97, a dada altura da letra, em vez de "achaste" tem escrito "achas-te". É uma falha tenebrosa. Numa música que agradece a nova criatura que Cristo faz de nós quando nos encontra.
Esta é a minha igreja. Ocasionalmente ofendida por erros ortográficos e não só.

sexta-feira, abril 23, 2004

Nota sobre a forma como se projecta a voz
Ao balcão a senhora de 30 anos protesta em alta voz o seu descontentamento pelo atraso da consulta. As outras criaturas comentam entredentes que as pessoas são muito mal-criadas.
Os profetas diziam nas praças o que muitos não seriam capazes de segredar no confessionário.

quinta-feira, abril 22, 2004

Lição pouco infantil
O arco-íris da história da Arca de Noé marca uma promessa de Deus feita aos homens: a Terra não voltaria a ser destruida por uma catástrofe natural. Uma fábula para crianças? Não me parece nada.

quarta-feira, abril 21, 2004

DMDLCAPQQTAR
Os bloquistas/evangélicos (riscar o que não interessa) têm dificuldades em entender que a política não se faz sob um pressuposto de boas vibrações. Seria necessário sugerir a comemoração de um Dia Mundial Da Luta Contra As Pessoas Que Querem Transformar A Realidade.
Três vezes
O pastor que me casou tentou aceder a este blogue a partir de um computador do Instituto Britânico. Por três vezes lhe surgiu um aviso no ecrã: "Warning, o servidor que providencia o acesso à Internet no British Council, não permite aceder a sites de pornografia e erotismo".
A exegese torna-se desnecessária.

terça-feira, abril 20, 2004

Prece
Sou um assalariado pelo ofício da religião. Tento fazer o meu trabalho como deve ser. Recebo ajudas ocasionais da literatura.
Rilke agora. Auxilia-me nas minhas orações. Não ser um especialista no ramo da alma, não tratá-la como instituição pública que represento, contrariar a tendência para nunca deixar de estar em serviço.
Obrigado, irmão.
Sem luz de presença
"As trevas estão por aí, escondidas, à espera que eu apague a luz, para se lançarem sobre mim". "Maria, oh Maria" dos Mão Morta, no disco "Corações Felpudos".

segunda-feira, abril 19, 2004

As fêmeas da Babilónia
O meu amigo A., cabo-verdiano, diz que uma das suas primeiras desilusões com o nosso país foi os traseiros rectos das mulheres portuguesas.
Pois
Os fariseus são sempre os outros.

sexta-feira, abril 16, 2004

Bicheza
N'os Animais Evangélicos de hoje o Samuel Úria escreve "Jesus morreu pelos que cometem o pecado da bazófia e ao menos na Páscoa esses deviam calar-se". Amén.
No útero de Damasco
Anda por aí à venda um livro sobre o apóstolo Paulo. Embora raramente confie em franceses para falar sobre religião (há umas excepções bestiais) reconheço que o autor soube dar-lhe bem o título. Chama-se "O aborto de Deus". Grande, grande nome.
Na livraria
O homem na estante de religião. A mulher na estante de esoterismo. A esta altura ela já havia mordido a maçã.
No parque de estacionamento
No elevador encontro a Clara Ferreira Alves. De regresso ofereço o meu lugar à Marta Cruz. Parece que é subterraneamente que encontramos as nossas celebridades. Um desígnio nacional. Fugindo do sol.

quinta-feira, abril 15, 2004

Por que encheu Satanás o teu coração?
O livro de Actos conta a história de Ananias e Safira (Actos 5:1-10), um casal pertencente à primeira comunidade cristã em Jerusalém. Tramaram-se pela sua avareza. Os comunistas gostarão desta história, parece-me.
Há muito tempo que não punha mp3s novos. Aqui (clique direito, save target as). A cantiga fala deste pobre par.

quarta-feira, abril 14, 2004

Frivolu
O cristão passeia as suas culpas pelas praças. As suas pequenas vaidades.
Adidas Samba. Tenho dois pares. Uns em verde (já muito gastos, não perdendo a classe) e uns em bordô (iguais aos da personagem do Ewan Mcgregor no "Trainspotting").
Antes de te armares em esperto, dá uma vista de olhos ao livro
A revista Christianity Today entrevista Greg Graffin, o vocalista dos Bad Religion (a banda de punk rock). A esta mistura de Chomsky com Sid Vicious o entrevistador aconselha: "the four Gospels, since, at the least, a rudimentary biblical literacy is—or should be—basic to education in a civilization shaped so considerably by the Christian and Jewish scriptures".

terça-feira, abril 13, 2004

O comentário político da semana
Com o atraso que nos humaniza. Mais uma encomenda gráfica ao meu amigo Paulo.


"Não recebo lições de democracia de quem vive em ilhas isoladas".
Do outro lado do Atlântico
Descobri este blogue: Mero Cristianismo (título baseado num livro de C.S.Lewis). O autor afirma: "Eu sou um pagão, e minha fé é pagã, e deus nenhum me é estranho. Minhas festas são pagãs, meus ritos são pagãos, só que com um novo foco: a figura de Jesus Cristo como filho de Deus. Eu sou um pagão, mas um pagão convertido". Não me preocupa o Lula. Se o Brasil tiver mais um ou dois iguais a este, de certeza que encontrarão o caminho.

segunda-feira, abril 12, 2004

Na grafonola
O Prince é bom. Muito bom. Desde o primeiro disco ao último. Desde a carapinha desgrenhada inicial aos saltos altos. Desde as músicas de leito aos Salmos. Ele afirma "she's soft and wet" com a mesma reverência que distribui folhetos sobre o Mundo Novo. Arte sem religião é uma chatice.
Mão à palmatória
O meu amigo Silas reage com pertinência ao poste em que afirmava parecer mal ser de direita no contexto das igrejas evangélicas. Sei que na Igreja Baptista de Viseu, por exemplo, será anátema não associar à fé o foto no PSD. E que no Norte os pastores devem fazer jejum e oração pelos crentes de esquerda.
Nós é que vivemos demasiado ensimesmados, aqui na capital.
Mais datas queridas
Um ano de blogue da mana e do cunhado.

sexta-feira, abril 09, 2004

Apenas
A memória da morte do nosso Senhor Jesus.

quinta-feira, abril 08, 2004

Calhaus do céu
O doutor Mário Soares anda assustado com as concepções pessoais religiosas do presidente Bush. Uma artigalhada da Nouvel Observateur esclareceu o sempre atento ancião acerca de algumas perspectivas teológicas sobre os finais dos tempos. Apocalipse e afins. É óbvio que metade dos evangélicos do nosso país chora de desapontamento com a respeitável figura.
Eu que sou uma criatura pós-25-do-4, assumo as minhas dificuldades com o maravilhoso revolucionário. A iconografia de Abril não me altera a pulsação cardíaca. Embora já tenha andado de cravo ao peito e tudo. Tinha 16 anos.
Os evangélicos, que passaram um mau bocado durante a ditadura, abraçaram a democracia com tudo o que tinham. Confundiram, no entanto, os seus actores como seus aliados. Por isso, ainda no contexto das igrejas, parece mal quando uma pessoa se situa à direita.
As declarações do doutor Soares não me surpreendem. Este socialista sempre foi um ignorante bem-disposto. Basta ouvir as suas generalidades sobre a América para o perceber. Evangélicos há que gostam muito do doutor Sampaio porque uma vez fez o frete de nos aturar num aniversário pomposo. Não há emenda.
A minha impaciência não se aplica aqui ao ex-presidente. Irrita-me sim que os patuscos evangélicos só se apercebam da inépcia dos seus heróis de jardim quando o meteoro lhes cai no quintal.

quarta-feira, abril 07, 2004

Sobre atribuir nomes
Tento ser rigoroso na escolha dos rótulos que colo às pessoas. Não se deve brincar com nomes. Este é um valor que aprendi com os judeus. Por exemplo, quando Noemi regressa ao seu país, de luto pelo seu marido e pelos dois filhos, aconselha: "Não me chameis Noemi; chamai-me Mara; porque grande amargura me tem dado o Todo-Poderoso".
Reunir a nossa experiência pessoal à previsibilidade ontológica da humanidade é uma tarefa séria. Mais raramente, qual Moisés, obterei até a resposta: "Eu Sou Aquele Que Sou".

terça-feira, abril 06, 2004

Singela homenagem II
Há dez anos atrás o meu mundo dividia-se em duas partes (o mundo divide-se sempre em duas partes, não há nada a fazer): entre os que optavam pelos Pearl Jam e os que optavam pelos Nirvana. No grupo de jovens da Igreja Baptista de Queluz esta era uma questão séria. Eu, na altura já mais espiritual que os meus companheiros, compreendia que o Cobain exibia um honesto ruah (sopro de vida, no hebraico), longe da pretensiosa sofisticação política do Eddie Vedder.
Singela homenagem
O Cobain foi, provavelmente, o primeiro a fazer-me sentir as urgências de destruir a guitarra. Há coisas que os mortos nos deixam e que nós nunca abandonamos.

segunda-feira, abril 05, 2004

Na Escola Dominical
Decorrendo o debate sobre a progenitura celestial, uma visitante brasileira não hesita em distinguir os filhos de Deus dos "filhos do diabo". Tenhamos calma, irmãos e amigos. Quem se importa tanto com genealogias acaba sempre por ter filhos bastardos.
Na igreja
A congregação tortura ritmicamente o hino nº 7. Salvam-nos as duas últimas linhas do refrão:
"mas Seu amor aos homens perdidos
das maravilhas é sempre a maior
".
Datas queridas
Fizeram um ano de blogue a donzela e o vilão.

sexta-feira, abril 02, 2004

I'd like to thank the Academy
Agradeço o blóscar "Prémio Irmã Lucia escutando W.A.S.P." atribuído pela Origem do Amor.
Inesperado silogismo de sexta-feira
Ontem, dizem, foi o dia das mentiras. O diabo é o pai da mentira, diz a Bíblia. Logo, ontem foi um feriado religioso. O maior dos nossos ímpios dias.

quinta-feira, abril 01, 2004

Uma visão
Entre os evangélicos diz-se hoje em dia que devemos exercitar a nossa cosmovisão cristã. Entendo a intenção. No entanto, penso que o cristão é aquele que, por excelência, não tem mundividência. Jesus parece quebrar qualquer tipo de aplicação de uma reflexão geral prévia. Para ir ao encontro daquilo que a vida é. Contra tudo o que mente. Sacerdotes, revolucionários e espectadores de futebol.
Este tipo de textos não são o meu forte. Achei, todavia, pertinente escrevê-lo.
Tudo Menos Política
O blogue da minha mulher faz hoje um ano. Começou às minhas escondidas e obteve um êxito considerável à custa da sua dedicação primeira às agruras do existencialismo laboral. De há uns tempos para cá tornou-se uma espécie de diário da nossa espera pelo nascimento da Maria. Não me agrada fazer da blogosfera um palco de cenas da vida conjugal. Mas ainda bem que há coisas na vida assim. Avassaladoras. Que quando chegam mudam tudo.